Porque é que ficamos tristes? Quem tiver lido alguns livros, escritos por pessoas inteligentes desde o princípio dos tempos, sabe que a vida é sempre triste. Vivemos muito sujeitos ao tempo, à nossa condição e ao meio de uma tal maneira que quase nada fica para fazer como queríamos.
Sobre nós o que manda é a saúde e o dinheiro. Temos o sítio onde nascemos, o sangue que herdámos, os hábitos que aprendemos, a raça, a idade que temos, o feitio, a disposição, a cara e o corpo com que nascemos, as verdades que achamos.
Estas coisas mandam tanto em nós que ficamos com pouco mais do que a vontade. A vontade e um coração acordado e estúpido, que pede como se pudéssemos tudo. Um coração cego e estúpido, que não vê que não podemos quase coisa nenhuma.
Aí está a razão da tristeza. Cada um de nós tem o corpo de um Homem e o coração de um Deus. E na diferença entre aquilo que sentimos e aquilo que acontece, entre o que o coração pede e a vida não pode, que muito cedo encontramos o hábito da tristeza. Habituamo-nos a amar sem nos sentirmos amados e a esse sentimento passamos a chamar amor.
No mundo das ausências, onde a tristeza vem de sabermos muito bem o que nos falta, a nós e àqueles que nos rodeiam, a bondade, que nos torna vulneráveis aos sofrimentos daqueles que nos acompanham e nos faz sofrer duas vezes mais do que se estivéssemos sozinhos.
A tristeza é o preço que pagamos por não sermos amargos. É graças à bondade que estamos tristes acompanhados.
R.M.
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